Noções sobre a vinha e o vinho em Portugal

de Ceferino Carrera


Vinhos Regionais - Vinho Regional Beiras


Pequenos retalhos históricos desta Região

Terras da Beira

A Beira Interior é um território de transição. Transição entre as «terras frias» e as «terras quentes», entre as montanhas e o litoral e entre as escarpas rochosas e os férteis e amplos vales.

As «Beiras» são regiões de limites imprecisos. O Diário da República delimita a Beira Interior na quase totalidade dos distritos da Guarda e Castelo Branco. Não obstante, se reunimos no «Interior», as denominações de Beira Alta e Beira Baixa haveremos de incluir praticamente a totalidade do distrito de Viseu. O Douro e o Tejo delimitam a zona a norte e a sul, enquanto que a nascente traça a fronteira com Espanha. A fronteira com o país vizinho, a mais antiga da Europa, é uma das marcas fundamentais desta região.

No centro desta área levanta-se a imponente serra da Estrela, por si só capaz de atrair um sem-fim de visitantes. Localidades tais como Seia, Guarda, Covilhã, Gouveia e Manteigas, entre outras, utilizam a condição privilegiada da proximidade do maciço para fazer valer os recursos específicos de cada zona.

De norte a sul, paralelamente à raia, estende-se o IP2, que pretende unir o país na vertical. Esta via tem continuidade como um rio que engrandece o caudal assim que cruza distâncias e afluentes, figura incontestável do dinamismo da Beira Interior.

Parece-nos ser esta via o narrador mais apropriado para descrever sucintamente a região que nos ocupa.

Ainda em Trás-os-Montes mas já no distrito da Guarda, assoma da encruzilhada dos rios Douro e Côa a vila à qual o afluente deu nome, Vila Nova de Foz Côa. Continuamos a nossa rota enquanto as colinas fazem serpentear o traçado do estreito IP2, que continua na expectativa de ser verdadeiramente um itinerário principal, e no lado direito emerge sobre nós a sombra do castelo de Marialva, mais antigo que a própria nacionalidade. Aldeia histórica com intervenção de recuperação, o aspecto medieval de Marialva é um estímulo à imaginação.

Mais além, a vila da Meda e as vinhas que nos acompanham desde o Douro. No lado esquerdo quase podemos avistar Castelo Rodrigo, que serve de marco histórico de Figueira de Castelo Rodrigo enquanto a serra da Marofa emoldura a povoação na paisagem. A sua produção vitivinícola desperta os sentidos em muitas mesas. Também o colorido das amendoeiras teima em aparecer. Pinhel, mais além, abre também uma garrafa do seu afamado vinho com intenção de desviarmos da nossa rota.

Mais longe, Almeida, alargando as suas pontas amuralhadas para o antigo reino de Castela.

Descortina-se já Trancoso, vila medieval, cercada de uma muralha imponente e quase completa de onde o «Bandarra» nos acena. Na mesma margem, um pouco mais arredado, divisamos Aguiar da Beira, povoação, como muitas das que nestas terras encontramos, com histórias de começar e nunca mais acabar. A agricultura e a recolha de resina continuam a ocupar fervorosamente as suas gentes.

Resistimos para continuar mais uns quilómetros e poder descrever o caminho em tão poucas linhas.

Ao chegar a Celorico da Beira, o aroma do queijo da serra indica-nos que o caminho aponta para a cidade mais alta do país. Deixamos o IP2 para apreciar o fabuloso vale do Mondego que parece arredar as primeiras montanhas da Estrela. O IP5 é agora a nossa opção. Duvidamos da direcção que devemos tomar. Por uma fresta reluzem Gouveia e Seia, na direcção do litoral o itinerário leva-nos como uma flecha até Viseu, antiquíssima cidade «farta de pão, vinho e história», terra do rei D. Duarte que se tornou também a pátria do insigne Grão Vasco.

Vamos para este, a Guarda apresenta-se perante nós como «a mais alta». Espaços privilegiados de defesa, a partir dos 1056m de altitude que alcança o topo da torre de Menagem observam-se as terras do Mondego e do Côa. Fria, Forte, Farta, Fiel e Formosa, os cinco «efes», são os epítetos que lhe outorgaram.

O cinzento do granito é marca permanente do interior de Portugal. Branco quando coberto da espessa capa de neve que alguns dias por ano difumina ao longe uma raia de fronteira quase natural. A voz que passa por boca nas gentes da fronteira refere que quando os espanhóis aqui chegaram, depois de um planalto fácil de transpor, observaram os «barrocos» que semeavam a terra e teriam pensado que esta terra não servia.

Sem nos demorarmos, experimentamos agora o traçado da nova auto-estrada, a A23. Quando estiver completo o traçado desta via, Lisboa e o sul do país ficarão todavia mais perto, circunstância que se espera positiva para o desenvolvimento geral da região.

Por um fisgo mostra-se o castelo das cinco quinas, que tenta espelhar sobre o Côa, ao largo do Sabugal. Na continuação do percurso entra-se numa terra diferente. Parece que o clima se transforma à medida que se penetra nesta região, a da Cova da Beira. Mais afável sem dúvida. Resultado desse fenómeno é a produção agrícola, que pelo extenso vale se observa: maçã, pêssego, cereja e azeitona. Belmonte e a Covilhã repousam à direita. A cidade da Covilhã, a meio caminho entre Guarda e Castelo Branco, parece escalar com garra a vertente Este da serra da Estrela.

Caracterizada pela quantidade de fábricas existentes em tão pouco espaço, edifícios esses de muitas janelas, enclaustrados junto dos pequenos afluentes de água, a cidade e a região mostram a importância da indústria têxtil e de lanifícios de outrora. Hoje muitas dessas construções desvendam sinais de abandono, ainda que algumas instituições, tais como a Universidade da Beira Interior (UBI) intentam aproveitar esse imenso património. De facto, é visível a presença da UBI em quase todos os projectos de modernização da cidade e da região. A própria universidade obriga a uma visita.

Quando se volta à estrada, a grande vertente da serra da Estrela, onde se localiza a Covilhã, oculta a Torre, a localidade mais alta de Portugal Continental, 2000 metros. Do flanco Oeste do maciço, nas encostas paralelas, deciframos Seia, Gouveia e Manteigas.

A poucos quilómetros de caminho, novamente em direcção ao sul, a cidade do Fundão faz demorar o trajecto. Cidade desde 1988, parece servir de portagem para ultrapassar o túnel da Gardunha.

Perto da fronteira, em direcção a Este, voltamos a recordar Idanha-a-Velha. O concelho é de Idanha-a-Nova mas os marcos populacionais são vários, entre eles, de sentinela, fica Monsanto e tocando Espanha, Monfortinho, famosa pelas suas termas. Terras produtivas, hoje aproveitadas para o cultivo para alem do vinho também se encontra o tabaco e os cereais.

A capital da Beira Baixa assoma ao fundo, Castelo Branco, tocado a sul com o amarelo-torrado do Alentejo, faz adivinhar temperaturas agradáveis na maior parte do ano. Localizada numa pequena elevação, o seu património histórico e cultural é vasto. Conhecidos de sobra são os bordados de Castelo Branco, que possivelmente datam já do século XVI, sendo a sua temática habitual relacionada com o amor, o namoro ou a família.

Continuando para sul acercamo-nos cuidadosamente de Vila Velha de Ródão para apreciar o correr tranquilo do rio Tejo. Os contrafortes das portas do Ródão, que parecem tentar deter o curso natural do rio Tejo, fazem-nos demandar parecenças num estreito de Gibraltar ou nas colunas de Hércules. As imagens que se capturam aqui, tendo como centro o rio Tejo, acabam por sintetizar o excelente caminho que se fez desde o Douro até ao Tejo e que se deseja repetir novamente.

A Beira Interior, em toda a sua extensão, envolta pelas admiráveis paisagens naturais e a riqueza dos sinais guardados de uma intensa história, forma um roteiro de inegável atractivo; desde as inúmeras aldeias históricas e fortalezas de fronteira até à serra da Estrela, passando pelas cidades, que mostram cada vez mais interesse pelas actividades culturais de qualidade, vinhas, rios, barragens, neve, desportos, gastronomia, cultura, história, etc, a oferta é para todos os gostos.

Sem esquecer as condição como a maior ou menor proximidade do oceano Atlântico, a influência dos vários acidentes orográficos nas condições climáticas ou, ainda, as diferenças de solos existentes, determinam que os vinhos produzidos nesta região ofereçam características bem diferenciadas que fundamentam o reconhecimento de três sub-regiões para a produção de vinho regional: "Beira Litoral", "Beira Alta" e "Terras de Sicó".

Portaria 165/2005 de 11 de Fevereiro, e Regulamento. (CE) 1493/99, de 17 de Maio.

Área Geográfica

Abrange os distritos de Coimbra e Castelo Branco, os concelhos de Aguiar da Beira, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo (excluída a freguesia de Escalhão), Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas (freguesias de São Pedro e Santa Maria do Sameiro), Meda (excluídas as freguesias de Fonte Longa, Longroiva, Meda e Poço do Canto), Pinhel, Sabugal, Seia e Trancoso, do distrito da Guarda; os concelhos de Armamar (freguesias de Aricera, Cimbres, Coura, Goujoim, Queimada, Queimadela, Santa Cruz de Lumiares, Santiago, São Cosmado, São Martinho das Chãs, São Romão e Tões e parte da freguesia de Aldeias que não pertence à Região Demarcada do Douro), Carregal do Sal, Castro Daire, Lamego, (freguesias de Avões, Bigorne, Britiande, Cepões, Ferreirim, Lalim, Lazarim, Magueija, Meijinhos, Melcões, Penude, Pretarouca, Vila Nova de Souto d'El-Rei e parte da freguesia de Várzea de Abrunhais que não pertence à Região Demarcada do Douro), Mangualde, Moimenta da Beira, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, Penedono, São João da Pesqueira (freguesias de Pereiros e Riodades), São Pedro do Sul, Santa Comba Dão, Sátão, Sernancelhe, Tabuaço (freguesias de Arcos, Chavães, Granja do Tedo, Longra, Paradela, Pinheiros, Vale de Figueira, e parte da freguesia de Sendim que não pertence à Região Demarcada do Douro), Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela, do distrito de Viseu; o distrito de Aveiro, com excepção dos concelhos de Arouca, Castelo de Paiva e Vale de Cambra e a freguesia de Ossela, do concelho de Oliveira de Azeméis; os concelhos de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos Pedrógão Grande, e Pombal (freguesias de Abiul, Pelariga Redinha e Vila Chã), do distrito de Leiria.

Sub-Região Beira Alta

Os concelhos de Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua, do distrito de Coimbra; os concelhos de Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia do distrito da Guarda; os concelhos de Santa Comba Dão, Sátão, Tondela e Viseu (excluídas as freguesias de Bodiosa, Caide, Campo, Lordosa e Ribafeita) do distrito de Viseu.

Sub-Região Beira Litoral

Os distritos de Aveiro (excluindo os concelhos de Arouca, Castelo de Paiva, e Vale de Cambra e a freguesia de Ossela, do concelho de Oliveira de Azeméis) e Coimbra (excluindo os concelhos de Arganil, Condeixa-a-Nova, Oliveira do Hospital, Penela, Soure e Tábua e a freguesia de Lamas do concelho de Miranda do Corvo).

Sub-Região Terras de Sicó

Os concelhos de Condeixa-a-Nova, Penela e Soure, e a freguesia de Lamas do concelho de Miranda do Corvo, do distrito de Coimbra; os concelhos de Alvaiázere, Ansião, Figueiró dos Vinhos (freguesia de Aguda) e Pombal (freguesias de Abiul, Pelariga, Redinha e Vila Chã), do distrito de Leiria.

Tipos de vinho Título Alcoométrico Volúmico Mínimo (%Vol.) Título Alcoométrico Volúmico Mínimo (%Vol.)
Branco 11 Adquiridos
Tinto 11 Adquiridos
Rosado 11 Adquiridos
Espumantes C/ Indicação Geográfica 10 Adquiridas
No caso de ser utilizadoa designação da sub-região
Beira Alta 10,5 Adquiridos+ 6
Beira Litoral 10,5 Adquiridos+ 6
Terras de Sicó 11 Adquiridos+ 6
Vinho: Branco, Tinto e Rosado

Castas Recomendadas

Brancas: Alicante Branco, Alvar, Arinto (Pedernã), Arinto do Interior, Assaraky, Barcelo, Bical, Cercial, Chardonnay, Dona Branca, Encruzado, Fernão Pires (Maria Gomes), Folgasão, Folha de Figueira, Fonte Cal, Gouveio, Jampal, Loureiro, Luzidio, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Pinot Blanc, Rabo de Ovelha, Riesling, Sauvignon, Semillon, Sercial (Esgana Cão) Sercialinho, Síria (Roupeiro), Tália, Tamarez, Terrantez, Uva Cão, Verdelho, Verdial Branco e Vital.

Tintas: Água Santa, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Alvarelhão, Aragonêz (Tinta Roriz), Azal, Baga, Bastardo, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Camarate, Campanário, Castelão (Periquita), Cidreiro, Coração de Galo, Cornifesto, Grand Noir, Jaen, Malvasia Preta, Marufo, Merlot, Monvedro, Moreto, Pilongo, Pinot Noir, Português Azul, Rabo de Ovelha Tinto, Rufete, Syrah, Tinta Carvalha, Tinta Francisca, Tintem, Tinto Cão, Touriga Fêmea, Touriga Franca, Touriga Nacional, Trincadeira (Tinta Amarela), Alvar Roxo, Folgazão Roxo, Gewürztraminer e Malvasia Fina Roxa.

Sub-Região Beira Alta

Brancas: Alicante Branco, Arinto (Pedernã), Alvar Roxo, Arinto do Interior, Assaraky, Barcelo, Bical, Cercial, Branda, Tália, Encruzado, Sercial (Esgana Cão), Fernão Pires (Maria Gomes), Jampal, Luzidio, Malvasia Fina, Malvasia Fina Roxa, Malvasia Rei, Pinot Blanc, Rabo de Ovelha, Semillon, Síria (Roupeiro), Tamarez, Terrantez, Uva-Cão, Verdelho e Verdial Branco.

Tintas: Água Santa, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Alvarelhão, Aragonêz (Tinta Roriz), Baga, Bastardo, Cabernet Sauvignon, Camarate, Campanário, Castelão (Periquita), Cidreiro, Coração de Galo, Cornifesto, Jaen, Malvasia Preta, Marufo, Monvedro, Pilongo. Pinot Noir, Português Azul, Rufete, Syrah, Tinta Carvalha, Tinta Francisca, Tintem, Tinto Cão, Touriga Fêmea, Touriga Franca, Touriga Nacional, Trincadeira (Tinta Amarela), e Malvasia Fina Roxa.

Sub-Região Beira Litoral

Brancas: Arinto (Pedernã), Bical, Cercial, Chardonnay, Fernão Pires (Maria Gomes), Loureiro, Malvasia Fina, Pinot Blanc, Rabo de Ovelha, Riesling, Sauvignon, Semillon, Sercial (Esgana Cão), Sercealinho, Verdelho, Verdial Branco e Vital.

Tintas: Alfrocheiro, Alvarelhão, Aragonêz (Tinta Roriz), Baga, Bastardo, Cabernet Sauvignon, Camarate, Castelão (Periquita), Jaen, Malvasia Preta, Marufo, Merlot, Pinot Noir, Rufete, Syrah, Tinta Carvalha, Tinto Cão, Touriga Franca, Touriga Nacional, Trincadeira (Tinta Amarela) e Gewürztraminer.

Sub-Região Terras de Sicó

Brancas: Arinto (Pedernã), Cercial, Fernão Pires (Maria Gomes) e Rabo de Ovelha e Tália.

Tintas: Alfrocheiro, Baga, Bastardo, Rufete, Touriga Nacional e Trincadeira (Tinta Amarela).

A certificação do Vinho Regional Beiras é feita pelo Conselho Vitivinícola Regional das Beiras

Prova Organoléptica (Generalizando)

A Cor

Com clima de características continentais onde o frio é dominante e com solos ácidos os vinhos apresentam cores consoantes. Assim, nos brancos que oferecem regra geral graduação alcoólica moderada entre 11º e os 12º a cor mais comum será a cor clara do citrino à qual se junta com a idade a cor palha e eventualmente algum dourado leve e recatado. Os vinhos tintos, com tonalidade azulados ou violeta na sua cor rubi intensa são bem próprios de climas frios, com uma acidez fixa nobre que o distingue. Com a idade pendem a evolucionar para o vermelho cereja e na decadência para a casca de cebola.

O Aroma

Como não poderia deixar de ser, os aromas dos vinhos brancos exibem de um modo geral frutos brancos e ácidos finos e elegantes que recordam a maçã e lima aos quais podemos adicionar uma componente floral que traduz a sua juventude e toda a sua origem de zona fria que faz a grandeza dos grandes vinhos brancos. Quanto aos vinhos tintos os frutos vermelhos do tipo framboesas, cereja, ameixa preta razoavelmente madura, são os mais habituais.

O Sabor

Os vinhos brancos são nervosos, frescos, acídulos e admiravelmente refrescantes, e quanto aos vinhos tintos se exibem frutados, com taninos bem presentes que estimulam graciosamente as papilas gustativas e com um acídulo que os transforma em leves e inquietos. Com a idade, brancos e tintos tornam-se mais aveludados, perdem alguma da sua jovem acidez mantendo sempre elegância de corpo e sabor.

Vinhos Regionais - Vinho Regional Duriense
Vinhos Regionais - Vinho Regional Ribatejano

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